domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Oráculo de Dionisio (A Entrevista)



PM: O senhor esta sóbrio?
D: [Risos] Acho que sim.

PM: Você já fez uma peça teatral motivado exclusivamente pelo amor?
D: Ah, sim. Sempre tenho alguma Deusa ou musa em minhas peças representam uma paixão.

PM: Então aquelas mulheres existem mesmo?
D: Mais ou menos. Não vamos exagerar, senão muita gente por aí vai ficar enciumada sem motivo. Tenho minhas inspirações reais, mais também às imaginárias. Estou falando do poder da criatividade sobre a criação.

PM: Então como é que você faz? Com as inspirações reais?
D: O truque é trocar o nome. [Risos] essa é uma técnica velha entre os escritores. Todo escritor ou dramaturgo tem suas musas inspiradoras, elas são umas referências para a criação, até porque sentimentos e emoções são matérias primas para construir e produzir uma obra se arte. A criação é um solo bem fértil.

PM: Os inimigos de sua arte costumavam acusa-lo de roubar umas idéias de outros autores. Como você reagia a isso?
D: [Pensativo] Isso sempre me entristeceu, por que você imaginar que um individuo possa copiar uma obra existente. Eu considero que existam coincidências, influência e inspiração para criar uma obra diferente mais com algumas semelhanças. O que seria de Shakespeare sem os clássicos greco-romanos.

PM: Como assim?
D: Vamos pegar as obras de um maravilhoso autor romano Ovídio, que escreveu As metamorfoses, uma imensa coletânea de história de transformações como a de Eco e Narciso, em que um rapaz vira uma flor, ou de Aracne, em que uma tecelã vira aranha, ou ainda a do amor proibido de Píramo e Tisbe, que fez os frutos da amoreira mudar de cor. Poderíamos comparar o amor proibido da obra Romeu e Julita de Shakespeare com a obra de Pirámo e Tisbe as duas tem um final trágico.

PM: Essa acusação chegou a te preocupar.
D: [Disfarçando a irritação] Não, porque, com todos esses anos, eu me habituei a ser muitas vezes agredido por esse tipo de insinuação.

PM: A sua imagem é vinculada com uma espécie de patrono do bacanal, você nunca se arrependeu por esse titulo?
D: Sou um artista, gosto mais de outro título o patrono da arte dramática. Sei que minha arte pode provocar embriaguez dos sentidos e solta emoções escondidas pelas mascaras sociais. Lembro que sou o deus da celebração e das festas e dos rituais.

PM: Qual é o seu vinho preferido?
D: Atualmente estou apaixonado pelos vinhos brancos. Ah. De Marlenheim, ao norte, até Thann, ao sul, a estrada dos vinhos de Alsácia, belos vilarejos, campos e vinhedos, adegas onde se podem provar excelentes vinhos brancos.

PM: O que tem de especial nestes vinhos?
D: [Pausa] Acho maravilhosos seus vinhos. Que nas fazendas, bosques e florestas crescem amoras, framboesas e morangos silvestres, de que se fazem algumas das eaux-de-vie (águas da vida) mais apreciadas em todo mundo.

PM: O senhor pode falar sobre uma curiosidade da história do vinho?
D: O vinho já teve vários significados, já foi símbolos de varias crenças diferentes. Por exemplo, em outras épocas virou no rito da Eucaristia, símbolo sacramental do sangue de Cristo. Como diz os franceses eaux-de-vie.

PM: Em Roma você ficou famoso com Baco e pelos gregos foi considerado como um deus subversivo, pos personificava a desobediência á ordem e á medida. Mas, afinal você é o causador da embriaguez?
D: Bem o que é embriaguez?
PM: É o estado de excitação e descoordenação motora, acompanhado de obscurecimento variável da consciência, que resulta da bebedeira.
D: Mais também é extasiar, envaidecer, inebriar ou êxtase. O perigo não esta no vinho, mais como ele é consumido. Todos nos concordamos que uma faca é um objeto indispensável em uma cozinha, para o preparo dos alimentos, Mais também pode se transformar em uma arma, para tirar a vida. O descontrole não esta no vinho, mais em quem perde o controle. Deixo um recado para seus leitores neste carnaval: "Se for beber não dirija. Se dirigir não beba". OK...

PM: Fale um pouco de sua relação com o carnaval?
D: Sou o promotor desta festa popular, coletiva, realizada anualmente nos quatro dias que precedem a quarta-feira de cinza. Diversão e folia. Não confundam com desordem, confusão e orgia. Eu gosto mesmo é da alegria, o homem sentir-se membro de uma comunidade universal em que se quebram as barreiras de classes.

PM: Você já viu alguém se levantar e ir embora no meio de um espetáculo seu?
D: Raramente. Tenho tido sorte. Mais a unanimidade também é impossível. [Risos].

PM: Como é seu casamento?
D: Pensei em juntar os trapos. [Risos]

A entrevista foi agradável, Dionísio esta numa fase mais serena, não sei dizer se ele estava realmente sóbrio, de tempos em tempos, Dionísio deixava-se interromper por telefonemas, pelo vaivém de seu agente, reclamou um pouco da luz, para as fotografias do ensaio, conversou com duas ninfas não identificadas pela produção. Ele é rápido, algumas vezes ácido e bom de história. Mas é gente boa e cordial. Uma frase que ilustre essa entrevista com Dionísio: “A penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes” (Alexander Fleming).
Rodrigo Ladir

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