domingo, 1 de fevereiro de 2009

Poético Mitológico entrevista Dionísio


Um papo descontraído com a divindade do vinho e da embriaguez sobre fertilidade, teatro, carnaval, casamento e outras peças raras.


O que Dionísio mais tem feito este começo do ano é preparar a celebração primaveril e promover o retorno da fertilidade da terra após o inverno. E, quando sobra tempo, participa de shows para expandir seu culto e ensinar os homens à arte da vinicultura, também é o padroeiro do teatro.
Filho de Zeus e Sêmele, perseguido por Hera, foi entregue as ninfas niseanas, que cuidaram dele durante a infância. Cresceu livre e possuía o estranho poder de amansar as feras mais ferozes. Hera o tornou louco e, assim, ele vagou por várias regiões da Terra. Apenas na Frigia, a deusa Réia o curou e o instruiu em ritos religiosos. Dionísio descobriu a cultura da vinha e o meio de extrair da fruta o saboroso suco. Voltando á Grécia, tentou introduzir seu culto, mas contou com a oposição de alguns príncipes e governantes, temerosos da desordem e da loucura que provocava. Em suas viagens foi seguido por um cortejo de ninfas, sátiros, bacantes e silenos. Por onde passavam, as pessoas tornavam-se felizes.
Em se tratando de Dionísio, as dimensões são sempre espantosas mesmo: Na Frigia, concedeu ao rei Midas a faculdade de poder transformar em ouro tudo que tocasse. Na Trácia, o rei Licurgo tentou dispersar a comitiva: Dionísio indignado cegou-o. Em Delos, concebeu as filhas do rei Ãnio o poder de mudar a água em vinho.
São várias as razões que o tornaram tão especial no showbiz, mas a principal talvez seja o seu talento incomum. Dionísio é daquele tipo raro de deus que consegue arrancar gargalhadas e espalhar sensualidade ao mesmo tempo e isso sem ter de fazer o papel de um idiota completo. É engraçado, exuberante e extravagante. Casou-se com Ariadne, depois que foi abandonada por Teseu; as núpcias foram celebradas com suntuosidade e o casal subiu ao Olímpio sobre um carro puxando por panteras.
A entrevista com Dionísio foi feita no teatro de Pérgamo, o que eu posso dizer. Entrevistar Dionísio não é fácil. Fácil, isso sim é conversar com ele.
Ele é mestre da arte meio esquecida do papo solto, de jogar conversa fora. Pior que isso: tente devia-lo do notável arsenal de frases que ele mesmo já cunhou ao longo do tempo.
“Quando me sentei no sofá de veludo verde do velho e charmoso teatro, a minha taxa de adrenalina já estava normal”. Marcar esta entrevista foi uma das mais difíceis negociações que já enfrentei. Pela sua ocupada agenda, seu agente sempre alegava que o teatro consumia todo seu tempo, com longos ensaios para a preparação da peça “A rosa dos Desejos”. Nos 25 minutos de atraso de Dionísio respirei fundo e me esforcei para procurar a harmonia interior, será que ele vem? Veio. Chegou usando uma coroa dourada com um chape de folhas de uva. Dionísio ocupa uma poltrona e se olha no espelho. E diz: “Estou pronto”.

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