terça-feira, 7 de junho de 2011

POÉTICO MITOLÓGICO (O Escultor de Pedras)

Antes de continuar a pequena saga do anjo no jardim!
Lembrei-me de uma história:

“Uma serpente começou a perseguir um vaga-lume”. Este fugia rápido, com medo da feroz predadora, a serpente, porém não desistia.
Os dias se passavam e a perseguição prosseguia implacável.
Finalmente, faltando-lhe as forças, o vaga-lume parou e indagou à serpente:
- Posso fazer-te três perguntas?
Respondeu a serpente:
- Não costumo abrir precedentes; no entanto, já que estou prestes a devorar-te, pode fazê-las.
Indagou, então, o vaga-lume:
- Pertenço eu à tua cadeia alimentar?
- Não, respondeu a serpente.
- Fiz-te eu algum mal?
- Não, redarguiu o ofídio.
- Então porque queres acabar comigo?
Armando o bote, respondeu a serpente:
- “Porque não suporto mais ver-te brilhar”

Senhoras e Senhores!
Episódio um
A saga do jardim

Nosso pequeno querubim canta:

O escultor de pedras

Na jornada do jardim a vários e largos os caminhos possíveis
Pernas de estátua eram a minha imagem refletida
Na luta pela sobrevivência, sou a pegada do passo por acontecer
Fabrico sonhos, talvez apoiados por um baú cheio de cenas
Como uma criança em longa jornada

Esculpindo episódios em segredo
Não contados em livro
No campo de batalha,
Cortando pedras no caminho

Sobre o jardim calado, os pedregulhos se exibem
Parados pelo silêncio do orgulho
Almas presas, mudas e fechadas
Endurecidas pelo tempo
E nunca mais pressinta o remexer de argilas.

Esculpindo episódios em segredo
Não contados em livro
No campo de batalha,
Cortando pedras no caminho

Rochas do despontar de sua existência
Obstáculos para os pobres de imaginação
Já para o artista alado,
Matéria prima transformada
Não mais pedra, mas formas e volumes de efeito artístico.
Gravadas e registradas como cenário de uma grande obra de arte.


Como referência para criar o poema (música) O Escultor de Pedras, selecionei um dos meus favoritos autores Carlos Drummond de Andrade em No meio do caminho.

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei de que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

(ANDRADE, Carlos Drummond de). In: MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 71.
(www.carlosdrummond.com.br)

Hoje também faço uma pequena homenagem ao escultor francês Frédéric Auguste Bartholdi de Mello conhecido principalmente por ter sido o autor da célebre Estátua da Liberdade, presente da França aos Estados Unidos da América e situada na entrada do porto de Nova York, assim como o Leão de Belfort (Lion de Belfort), construído para celebrar a resistência heroica da cidade durante o cerco de 1870-1871, durante a Guerra Franco- Prussiana.

Uma frase para O escultor de Pedras:
"A mão que afaga é a mesma que apedreja"
Esse é o paradoxo das pedras do jardim.

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