quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

POÉTICO MITOLÓGICO: (URÂNIA a estrelar)





Senhoras e senhores
Olhem para o céu
A próxima é celeste
Urânia
A musa da Astronomia e Astrologia
Entendida e interpretada na antiguidade
Por sábios, magos e sacerdotes.
É a entidade que estuda as posições e movimentos
Dos planetas e as constelações.
É ambígua
É guia dos místicos
Muitos a consideram como
Prática divinatória ou arte de adivinhação
Mais gosta mesmo de ser chamada com estudo dos astros
Pode ser mal interpretada,
Na modernidade foi banalizada com produto
Tem seu lado negativo,
Pode ser especulativa ou ter uma interpretação mecânica,
Também pode ser manipulada.
Mais quando é levada com seriedade
Expressa através de um mapa
Gosta de ser um instrumento de autoconhecimento
É sideral.


Um presente de Urânia seu texto preferido:


O homem; as viagens.

O homem, bicho da Terra tão pequeno.
Chateia-se na Terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão.
Faz um foguete, um cápsula, um módulo.
Toca para Lua
Desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
Planta bandeirola na Lua
Experimenta a Lua
Civiliza a Lua
Coloniza a Lua
Humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual a Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
Pisa em Marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza Marte com engenho a arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repertório

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Só para teve?

Não vê que ele inventa
Roupa insidiável de viver no Sol.
Põe pé é:
Mas que chato é o Sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A difícil cancerosíssima viagem
De si a Si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O Homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria de conviver.
(Carlos Drummond de Andrade).

Nenhum comentário: